Livramento tem uma natural e até
hoje imutável vocação para a agropecuária, dos cerca dos 700 hectares que
compõe o território santanense 90% é ocupado por estabelecimentos rurais,
sendo: 80% pastagens, 5% de cultivo de soja, 2% dedicado ao cultivo de arroz e
13% outros cultivos.
Segundo o palestrante Davi
Teixeira, a combinação do clima subtropical com o Bioma Pampa confere a nossa
região características únicas no mundo, que podem alavancar de diversas formas
o desenvolvimento.
Para investir em um negócio é
importante sabermos qual a possibilidade de crescimento do mercado consumidor e
o economista Antônio da Luz demostrou através dados estatísticos que o com o
aumento populacional a demanda por carne só tende a crescer, garantindo um
mercado em expansão, sobretudo na África e na Ásia. Em 1960 éramos 3 bilhões de
pessoas no planeta Terra, estima-se que em 2050 seremos mais de 9 bilhões de
habitantes e a renda da população mundial também vai aumentar. De acordo com o
economista na média a renda da população mundial vai ser a mesma do brasileiro
atualmente, “o mundo vai ser um Brasilzão” disse Antônio da Luz.
Na opinião de Antônio da Luz o
agronegócio não exporta produtos primários, commodities, sem valor agregado,
porque a soja, por exemplo, que é exportada utilizou tecnologia, maquinário
para ser plantada, colhida e que assim sendo, haveria menos venda de máquinas
caso a exportação de grãos fosse menor, ainda segundo ele, os únicos produtos primários
que o Brasil exporta são: petróleo na sua forma bruta e minério de ferro. Nesse
ponto faço uma objeção, não tirando a razão do argumento do especialista, mas
pelo meu prisma melhor seria industrializar essa soja no Brasil, porque muitas
vezes exportamos certa matéria prima que será transformada em produto
industrial fora do país e vamos importar esse produto. O agronegócio é
importantíssimo, mas falta sim industrializar mais o país ou no mínimo,
diversificar nossa indústria.
O economista argumenta também que
dividir a economia entre: primário, secundário e terciário, é um conceito
antigo, da década de 1930 e ultrapassado, porque hoje a economia é circular e
nós não sabemos onde começa o que. “Onde começa a agricultura? Na fazenda? Nas
pesquisas das universidades? Impossível saber” afirma Antônio da Luz.
O PIB agropecuário vem sendo em média, nas
últimas 3 décadas, maior que o PIB brasileiro, o que demonstra o quanto é
errado a visão de que este é um setor atrasado da economia. O setor
agropecuário é o responsável pelo superávit brasileiro: exportou 100 bilhões de
dólares e importou apenas 17 bilhões, que é o saldo comercial brasileiro,
porque a indústria é deficitária.
Um ponto relevante é o chamado “custo
Brasil”, que decorre de várias decisões estruturais erradas e falta de
qualidade e investimento nas escolhas feitas. Um exemplo disso o transporte de cargas
no Brasil foi escolhido realizar esta tarefa através das rodovias, mas 70% das
rodovias brasileiras não são asfaltadas. Os Estados Unidos, por outro lado,
transportam a maior parte de sua produção através de hidrovias. O Brasil
despreza esta opção de escoar a produção mesmo tendo um número muito superior de
km de hidrovias que os estadunidenses. As dificuldades em transportar o que é produzido
combinado com a alta carga tributária e entraves burocráticos fizeram com que o
trigo no Brasil seja o de maior custo no mundo e o único que teve prejuízo
entre todos os países que o produzem.
Mesmo assim a agropecuária é um excelente
negócio que vai crescer expressivamente até 2050 e se relaciona bem com os
potenciais de Santana do Livramento e região. Davi Teixeira falou da
importância em ser disponibilizada ao turista uma vivência maior da cultura
gaúcha em Livramento, através de comida típica servida de acordo com as
tradições da “campanha”, turismo ecológico, explorando com sustentabilidade o
Bioma Pampa e turismo rural. Davi sugeriu que fossem vendidos pacotes onde os
turistas iriam fazer compras e depois conhecer, hospedar-se em um estabelecimento
rural.
E isso é fato: se alguém vem a
Livramento atrás de autênticos gaúchos vai se deparar com guris de boné ouvindo
funk pela rua e não vai encontrar um lugar que tenha pessoas pilchadas, onde
seja servida comida típica, salvo na semana farroupilha. O Davi também falou
que este complexo de esperar indefinidamente que uma indústria aqui se instale
e traga emprego e renda para os santanenses precisa ser superada, porque há
muito deixou de fazer sentido. De acordo com o exposto por ele, o que vai
trazer a prosperidade para a cidade e seus habitantes é a combinação do
potencial da produção de alimentos e do turismo urbano-rural.
Poucas vezes fui num evento onde
os palestrantes tivessem tamanho domínio do assunto e clareza em sua exposição.
Minha vontade é transcorrer as 4 horas de evento na íntegra, mas é necessário
exercitar minha capacidade de síntese. Gauchada, o cavalo está passando
encilhado e a maioria dos problemas que todos nós santanenses somos capazes de
enumerar encerram uma oportunidade. Quem tiver coragem e capacidade para
empreender será recompensado. É necessário que utilizemos todo nossa influência
e capacidade de articulação política para melhorar a logística: se não é
possível diminuir os impostos que pelo menos este dinheiro seja revertido em
benefícios reais. Porque ser competente “da porteira pra dentro” é muito
importante, mas não é suficiente.
Fernanda Araújo
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