Participei de uma palestra muito interessante sobre os limites da Arte, com um professor vindo do País Vasco, o muito humilde e simpático Xabier Laka. Eu adoro o idioma dos Bascos, se chama Euskera, a escrita, já muito artístico, mas não entendo nada. Catalão entendo bem e me viro com meu pequeno vocabulário, mas a Euskera parece idioma de bruxa, é mágico. Talvez por ser terra de Druidas..
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Domínio de Euskera, Espanhol, Inglês e Carisma! |
Xabier trouxe uma palestra baseada em imagens e através das simbologias apresentadas trazia provocações em relação a um limite da arte. Esse formato fora dos padrões da estrutura positivista, aquela que rotula tudo, como caixinhas etiquetadas numa estante, exigem um nível de abstração muito maior ao qual estou habituada. E o professor iniciou sua fala esclarecendo que limite não significa limitação, mas sim uma condição necessária para que qualquer coisa exista. E que na arte mais importante que o conteúdo é a forma. Ele exemplificou pronunciando a letra "A", que fazendo isso de modo sussurrado ou gritando, mesmo sendo o mesmo A e até mesmo com igual duração, tem significado e gera um entendimento muito diverso.
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Diferentes tipos de artistas, de acordo com Laka |
O que torna uma obra interessante é o que o artista fez com o suas experiências, está para além do simples contar o que lhe passou. Ele comentou sobre uma aluna que se considerava extremamente fraca, mas que na opinião dele, era uma das pessoas mais fortes que havia conhecido: "fuerte porque era capaz de trabajar con uno mismo de manera no engañosa", disse Xabier. Sobre questões de metodologia de ensino o professor visitante falou que sua experiência tem demonstrado ser mais eficiente apresentar situações aos alunos e que eles mesmos busquem um problema dentro desta situação e que conjuntamente busquem uma solução.
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Números primos e a Arte |
Segundo o palestrante as grandes obras de arte são como os números primos: não podem ser reduzidos e são abundantes no início e cada vez mais raros conforme continuamos buscando. "Vemos un pasado lleno de números primos. Cuanto más se aleja, más dificil es encontralos". E, às vezes, temos mesmo essa impressão de que os gênios ficaram no passado, que não há nada mais extraordinário a ser descoberto. Que as obras primas da música, da literatura, da pintura... que o auge está no passado e raramente algo realmente admirável surge.
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Na figura mais acima a literatura ou a arte em si, e na figura apontada por Xabier o "mundo literário" ou o "mundo da arte" |
A arte é um estado pré-cultural e é diferente do mundo das artes. Fazendo um paralelo com a literatura o livro, que adoro, "O Grande Gatsby" é literatura. O quanto de influência ele teve, o quanto ele é cultuado, transformado em filmes, se é uma obra importante, com muitas edições de luxo, é outra coisa. Xabier veio falar da arte e não do mundo que a rodeia, este sim é uma expressão cultural e altamente complexo.
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Uma intervenção numa casa gerou uma obra de arte |
Uma das coisas que mais me impactou foi quando o professor explicou que estética é diferente de beleza. Muitas vezes eu julgava que determinada coisa não poderia ser considerado arte porque era feio. Laka conceitua que beleza é sempre "hermosura", mas não necessariamente estética. A estética é o sentido de ser e estar, é uma expressão.
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Peculiaridades riverenses |
Ao lado do salão de atos tem um pátio onde os alunos ficam estudando sentados na grama, achei adorável e claro havia um mate brilhando na primeira fila do evento que contou com cerca de 40 ouvintes no Centro Universitário de Rivera. Após a palestra foi anunciado pelo diretor que será constituído, em parceira com a UFSM, um curso de graduação em artes para ser ofertado em Rivera. Fiquem atentos para o segundo semestre!
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Poesia em Euskera, com tradução em espanhol |
Eu sou uma apaixonada por arte, mas, assim como quando o assunto é vinho, só sei do que gosto, não sou uma entendida do assunto. E sempre é revelador se deixar levar para esses mundos tão diferentes da gestão nossa de cada dia. Eu gosto das artes "bonitas", ainda que ultimamente minha vida se pareça, aos meus olhos, muito mais com arte moderna: por mais que eu analise, continuo sem entender! Num debate entre o prof e eu chegamos a um consenso: de que a arte é o acordo entre o que todos nós aceitamos e entendemos que é arte. Afinal, a beleza está nos olhos de quem vê e é proporcional a sensibilidade de cada um. Qual o seu prisma?
Abraços artísticos,
Fernanda
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