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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Projeto Pró-África: Moçambique em pauta na Unipampa de Livramento

O evento "Moçambique: da luta pela independência as problemáticas atuais", possibilitou a vinda de dois professores africanos: o dr. Ibraimo Momade e do mestre em economia Manuel Matshine. O que de cara já tornava tudo interessante é que, embora os dois sejam moçambicanos, eles são de regiões diferentes e essa questão regional é revolucionária na maneira de falar, de pensar e de se posicionar no debate que os estudantes que lotaram a sala 11 da Unipampa tiveram o privilégio de presenciar.

Do encontro de ACI's a Moçambique: com a prof. Alessandra, e os convidados Momade (esq) e Manuel (dir).

Eu entendia claramente o que o Manuel falava, um sotaque bem português de Portugal, mas de leve, quase carioca! Me custava compreender o que Momade dizia, uma maneira mais cerrada de pronunciar, mesmo depois de viver no Brasil por mais de uma década. É muito bacana a trajetória dele: Momade era, ano após ano, o melhor aluno da turma. Isso possibilitou com que ele avançasse nos estudos, apesar das dificuldades financeiras. Foi ofertada uma única bolsa de estudos patrocinada pelo Reino Unido na região onde Momade vive, e ele conquistou! O idioma foi preponderante para a decisão de vir para o Brasil e depois de 12 anos de estudo e prática ele voltou para o norte de Moçambique para compartilhar e aplicar seu conhecimento na área da agronomia.

Parte do público que ouviu de forma fascinada e se manifestou de maneira apaixonada


O Manuel falava sobre a África e eu pensava no Brasil: salvo as proporções, os tópicos problemáticos são muito semelhantes. Logística, escolha errada de modais, ignoram o potencial do transporte fluvial, insistem em transporte terrestre mesmo com estradas péssimas. Há uma cultura do contra, as pessoas se perdem em meio a boatos fantasiosos que aterrorizam e impedem ações que poderiam contribuir para o desenvolvimento. Momade afirma que críticas propagadas pela elite do sul de Moçambique. Os professores destacam uma diferença entre nosso país e o deles, nossa agricultura familiar se comparada a realidade de Moçambique, é latifúndio. Segundo Momade, os produtores que nós classificamos como agricultores familiares, ele considera empresários.

Os palestrantes, professor Altacir e os alunos que participaram da organização do evento.

O mais interessante foi a conjuntura de posicionamentos e prismas sobre um projeto do governo brasileiro em Moçambique, o Prosavana. O prof Manuel é do sul do país e é contra o projeto. Lá no sul rolaram muitos boatos, que o Brasil queria ganhar terras, escravizar e todas as piores coisas. Outros diziam que até tranquilo o Brasil, mas os japoneses também estavam envolvidos no projeto e esse era o problema. Para o nortenho Momade, que vivencia a falta de inputs na agricultura, o projeto mesmo imperfeito, era bem-vindo. Mas como o mundo é pequeno também estava presente o prof. da Unipampa, Altacir Bunde, que esteve em Moçambique acompanhando o projeto Prosavana junto a EMBRAPA. De acordo com Momade, falta uma rede acadêmica em seu país, os pesquisadores estão isolados em seus esforços e conhecimentos. E com a riqueza do debate destes três prismas é evidente a importância e o valor de uma rede de acadêmicos engajados.

Sobre o Prosavana da EMBRAPA - Difícil levar a sério quem escreve um projeto com comic sans!

Além do debate fascinante, os alunos presentes se posicionaram brilhantemente, arrebatados com as possibilidades de troca de experiências, cooperação e possíveis programas de extensão. Rose, de GP, defende uma contribuição prática por parte da Unipampa. Rafa, de R.I, falou sobre o papel da diplomacia, que também foi questionado pelo aluno Gustavo que abordou especificamente se as dificuldades de exportar a produção eram motivadas pela falta de relações diplomáticas do jovem país. Os moçambicanos concordaram que sim, que este é um entrave importante a ser superado. Da minha parte, concordo com o posicionamento do prof. Alexandre Troian de que no caso de Moçambique apostar no mercado interno ameniza o problema da fome no país e da dificuldade na venda da produção de alimentos sem a necessidade de exportar a produção.

Rafa, como bom internacionalista, ampliando sua rede.


O evento só terminou pelo esforço da profa. Alessandra Troian em finalizar o debate que já contava com uma hora além do previsto. Para quem quiser mais sobre o projeto Prosavana recomento este link. O prof. de economia Altacir Bunde contou que amigos seus estão escrevendo sobre os impactos do Prosavana, "falam dos impactos do que não aconteceu", comentou Momade. Eu tenho a sorte de contar para vocês desse seminário que aconteceu e que foi tão interessante.

Equipe do Projeto de cooperação internacional entre o Brasil e a África (PRÓ-ÁFRICA). 

Abraços acadêmicos,
Fernanda

3 comentários:

  1. Parabéns pela excelente reportagem. Vc explanou muito bem is diversos prismas da questão. O evento foi uma oportunidade única. Seu blog é muito legal, vc deveria ter um canal no youtube, parabéns Fernanda!

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  2. Fe, muito boa a matéria!
    Sempre mostrando o quão inteligente é. Adorei o teu posicionamento durante o texto, não mostrou singularidade alguma, sempre muito neutra. Gosto de te ver por aqui na blogosfera. Não para!

    www.priscilaaborda.com

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  3. parabens.. que lindo ... ver pessoa da outra nacionalidades... 😍

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