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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Livramento e as cadeiras nas calçadas

“São casas simples, com cadeiras nas calçadas e na fachada escrito em cima que é um lar” (Vinicius de Moraes)

Este ano Livramento e sua gente teve seu pala pisado, enxovalhado com ofensas e preconceitos que nos quiseram atribuir. Porque foram extremamente ofensivos e altamente preconceituosos ao incluírem todos os santanenses na lista dos radicais talibãs gaudérios, por conta daquele bochincho do casamento entre as moças no ex-ctg. Lembro de assistir a um debate entre candidatos ao governo do Estado onde Livramento só foi citada para ser taxada de cidade homofóbica. O colunista David Coimbra elucidou a questão com brilhantismo, o casamento gay nunca foi problema, o problema foi a escolha do local, tanto que em fevereiro deste ano já havia sido realizado casamentos coletivos em que participaram casais homoafetivos sem qualquer problema. No entanto, fomos rotulados de atrasados, tacanhos, talibãs, extremistas, caretas, agressivos, radicais, vilões, intolerantes e otras cositas más, que prefiro nem repetir.
Quem falou isso não conhece Livramento e os santanenses que repetiram essas injúrias que façam o favor de parar de se exibir dizendo que são da Fronteira, porque não são. Se fossem saberiam que aqui todos são bem recebidos, que aqui convivem em paz judeus e palestinos, gremistas e colorados, os que tomam mate e os que tomam chimarrão, os que ouvem pagode e os que ouvem nativismo, os que acordam as 6h da manhã e os que chegam em casa as 6h da manhã, os chatos e os “balaqueiros”, os que tem fé e os que não crêem, os gays e os héteros, os infiéis e os monogâmicos, gaúchos e “gauchos”. Ao contrário de muitos lugares modernos como a capital de São Paulo, não conheço caso de que alguém tenha sido espancado e morto porque é gay. Já vi babacas saírem de olho roxo, mas por sua babaquice, nunca por ser hétero ou não.


Quem conhece Livramento, conhece essa gente que coloca as cadeiras de abrir nas calçadas pra tomar mate, pelear com os mosquitos e olhar o “movimento”, que, salvo essas pessoas peguem as cadeiras, o mate e se dirijam até a Sarandy, o que não é incomum, esse tal movimento não é tão movimentado. Essa atitude revela bem mais do que um aumento na temperatura, revela que as pessoas sentem-se ainda seguras em estar de portas e janelas abertas sentado em frente de casa, mostra que as pessoas gostam de conversar e porque não de fofocar?! Isso é privilégio do interior! Se você fica irritado porque sua vizinha fica controlando os seus horários e não perde a oportunidade de comentar que em tal dia você chegou mais tarde do que o habitual, agradeça! Sim, porque se você morasse numa grande metrópole, creia, você poderia sumir, cair doente, ou qualquer coisa do gênero e ninguém notaria sua ausência. A(o) vizinha(o) fofoqueira(o) é nossa(o) guardiã(ão), talvez ela(e) nem saiba disso, talvez você preferisse dispensá-la(o) deste serviço, mas de fato, ela(e) desempenha este papel brilhantemente.
Mas nem todos se reúnem nas calçadas para matear e prosear, há uns que abraçam o termo¹, seguram a cuia bem junto ao corpo, como se a bomba fizesse um sinal de silêncio em frente aos lábios, se encostam na parede, ou num poste, e ficam com olhar perdido, sentido o tempo passar, ouvindo os ruídos do “movimento”, ensimesmados, talvez esperando alguém, talvez recordando o passado, ou simplesmente aproveitando tranquilamente a própria companhia.


Esta Santana do Livramento, que coloca a cadeira na calçada, ceva o mate e está sempre pronta para uma charla franca, “sem gre-gre pra dizer Gregório”, esta é a minha terra, senhores, nela até os que ferozmente nos acusaram de diversos radicalismos são bem-vindos. Um poeta, se referindo às estrelas disse: “amai para entende-las!”, creio que isto bem se aplica a esta cidade que leva o nome de duas santas, a Virgem Maria – enquanto Nossa Senhora do Livramento e sua mãe, vó de Jesus, a Santa Ana. Amai Livramento para entendê-la e puxar uma cadeira na calçada e ficar contente em estar com quem se gosta...

“E eu que não creio, peço a Deus por minha gente” (Vinícius de Moraes)

Um forte abraço a TODOS!

Fernanda

¹Termo - garrafa térmica

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