“São casas
simples, com cadeiras nas calçadas e na fachada escrito em cima que é um lar”
(Vinicius de Moraes)
Este ano
Livramento e sua gente teve seu pala pisado, enxovalhado com ofensas e preconceitos
que nos quiseram atribuir. Porque foram extremamente ofensivos e altamente
preconceituosos ao incluírem todos os santanenses na lista dos radicais talibãs
gaudérios, por conta daquele bochincho do casamento entre as moças no ex-ctg. Lembro
de assistir a um debate entre candidatos ao governo do Estado onde Livramento
só foi citada para ser taxada de cidade homofóbica. O colunista David Coimbra
elucidou a questão com brilhantismo, o casamento gay nunca foi problema, o problema
foi a escolha do local, tanto que em fevereiro deste ano já havia sido
realizado casamentos coletivos em que participaram casais homoafetivos sem
qualquer problema. No entanto, fomos rotulados de atrasados, tacanhos, talibãs,
extremistas, caretas, agressivos, radicais, vilões, intolerantes e otras cositas más, que prefiro nem
repetir.
Quem falou isso
não conhece Livramento e os santanenses que repetiram essas injúrias que façam
o favor de parar de se exibir dizendo que são da Fronteira, porque não são. Se fossem
saberiam que aqui todos são bem recebidos, que aqui convivem em paz judeus e
palestinos, gremistas e colorados, os que tomam mate e os que tomam chimarrão,
os que ouvem pagode e os que ouvem nativismo, os que acordam as 6h da manhã e
os que chegam em casa as 6h da manhã, os chatos e os “balaqueiros”, os que tem
fé e os que não crêem, os gays e os héteros, os infiéis e os monogâmicos,
gaúchos e “gauchos”. Ao contrário de
muitos lugares modernos como a capital de São Paulo, não conheço caso de que
alguém tenha sido espancado e morto porque é gay. Já vi babacas saírem de olho
roxo, mas por sua babaquice, nunca por ser hétero ou não.
Quem conhece
Livramento, conhece essa gente que coloca as cadeiras de abrir nas calçadas pra
tomar mate, pelear com os mosquitos e olhar o “movimento”, que, salvo essas
pessoas peguem as cadeiras, o mate e se dirijam até a Sarandy, o que não é
incomum, esse tal movimento não é tão movimentado. Essa atitude revela bem mais
do que um aumento na temperatura, revela que as pessoas sentem-se ainda seguras
em estar de portas e janelas abertas sentado em frente de casa, mostra que as
pessoas gostam de conversar e porque não de fofocar?! Isso é privilégio do
interior! Se você fica irritado porque sua vizinha fica controlando os seus
horários e não perde a oportunidade de comentar que em tal dia você chegou mais
tarde do que o habitual, agradeça! Sim, porque se você morasse numa grande
metrópole, creia, você poderia sumir, cair doente, ou qualquer coisa do gênero e
ninguém notaria sua ausência. A(o) vizinha(o) fofoqueira(o) é nossa(o) guardiã(ão),
talvez ela(e) nem saiba disso, talvez você preferisse dispensá-la(o) deste
serviço, mas de fato, ela(e) desempenha este papel brilhantemente.
Mas nem todos
se reúnem nas calçadas para matear e prosear, há uns que abraçam o termo¹,
seguram a cuia bem junto ao corpo, como se a bomba fizesse um sinal de silêncio
em frente aos lábios, se encostam na parede, ou num poste, e ficam com olhar
perdido, sentido o tempo passar, ouvindo os ruídos do “movimento”, ensimesmados,
talvez esperando alguém, talvez recordando o passado, ou simplesmente
aproveitando tranquilamente a própria companhia.
Esta Santana do
Livramento, que coloca a cadeira na calçada, ceva o mate e está sempre pronta
para uma charla franca, “sem gre-gre
pra dizer Gregório”, esta é a minha terra, senhores, nela até os que ferozmente
nos acusaram de diversos radicalismos são bem-vindos. Um poeta, se referindo às
estrelas disse: “amai para entende-las!”, creio que isto bem se aplica a esta
cidade que leva o nome de duas santas, a Virgem Maria – enquanto Nossa Senhora
do Livramento e sua mãe, vó de Jesus, a Santa Ana. Amai Livramento para entendê-la
e puxar uma cadeira na calçada e ficar contente em estar com quem se gosta...
“E eu que não
creio, peço a Deus por minha gente” (Vinícius de Moraes)
Um forte abraço
a TODOS!
Fernanda
¹Termo - garrafa térmica
¹Termo - garrafa térmica
Nenhum comentário:
Postar um comentário