Ser professora tem suas similaridades com ser mãe: quando se
tem um filho uma mulher perde o nome próprio, já não é mais Cristina, Andreia,
Isabel... esta mulher se torna “mãe”. Quando ouvir esse substantivo comum, dotado
da particularidade do tom de voz inconfundível de seu filho, a palavra “mãe”
torna-se substantivo próprio, personalíssimo. E muitas pessoas vão se referir a
esta mulher que até pouco tempo tinha um nome, apelidos de infância, como a “mãe
do Antônio”, “mãe da Bia”...
Algo semelhante ocorre com as professoras, e com os
professores também, bem como com os pais... uma mulher que começa a lecionar
perde o nome próprio, torna-se a “Pro”, “Profeee” e como muitos meninos adoram:
“sora”!
Ando pelas ruas e invariavelmente ouço: “proooooo!”, ou “aquela
é a minha professora”. Nunca ouvi um aluno dizer: aquela é a Fernanda. Não,
desde a segunda-feira seguinte a minha formatura, quando bati na sala da
coordenadora e pedi a oportunidade de lecionar, sou a professora para os
mais de 500 alunos que tive ao longo deste ano, para as famílias destes alunos,
para as namoradas e namorados que ouviram pacientemente explicações entusiasmadas
do que meus alunos haviam aprendido em aula. Certa vez, uma aluna contou que
estava numa festa e sentiu-se ótima explicando a todos que marketing é o estudo
dos mercados, questionada pelo namorado sobre o que seria o estudo dos mercados,
ela teve que confessar: isso a “pro” vai explicar na próxima aula, aí te conto!
No trabalho social que a escola, particular, em que dou aula
desenvolve tenho contato com alunos muito jovens, ultra jovens! E é maravilhoso
ver a capacidade de absorver conhecimento que eles possuem, como aproveitam
cada ensinamento como se fosse o último bombom da caixa. Eu ensino brincando,
como um “stand up” do saber, conduzo os conceitos e informações para ajudá-los
a compreender, para estimular o pensamento crítico. Recorrente observar
mudanças comportamentais positivas muito rapidamente, na maneira de se vestir,
de se expressar, de conviver em grupo. Comovente os agradecimentos, elogios,
declarações e, sobretudo, as confissões de planos para o futuro: sonhos com uma
carreira vitoriosa, de abrir o próprio negócio e o meu favorito: de cursar
faculdade. Como é bom preparar a terra, lançar sobre ela uma semente e depois
verificar o primeiro broto surgindo, sabendo que se isso está ocorrendo é
porque, para além do que se vê, existem raízes.
Numa noite de outono entrei na sala de aula, com o
entusiasmo que me é peculiar, pronta para lecionar para determinada turma, mas
na sala estavam ex-alunos meus, que já deveriam ter saído, mas se demoraram
mais do que deviam. Assim que entrei recebi uma salva de palmas, com direitos a
gritinhos e assovios. Fiquei tão emocionada que tive que inventar uma desculpa
para sair às pressas, senão teria chorado. Justo eu que tantas vezes fui acusada
de insensível pelos ex-namorados, pelas amigas indignadas porque achei um tédio
o filme que elas acharam lindamente romântico, justo eu sherlockiana, racional,
como pude me transformar em uma manteiga derretida? Me refugiei no banheiro e
encarando o espelho questionei: Fernanda Araújo, o que é isso?? Respirei fundo
e assim que saí tive a resposta: um grupo de alunas gritou: “beijooo proooo”. Tudo
ficou claro, a gestora pública Fernanda Araújo jamais vacilaria em um momento
de emoção, mas eu já havia me transformado na “Prooo”.
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