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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Ser professora...

Ser professora tem suas similaridades com ser mãe: quando se tem um filho uma mulher perde o nome próprio, já não é mais Cristina, Andreia, Isabel... esta mulher se torna “mãe”. Quando ouvir esse substantivo comum, dotado da particularidade do tom de voz inconfundível de seu filho, a palavra “mãe” torna-se substantivo próprio, personalíssimo. E muitas pessoas vão se referir a esta mulher que até pouco tempo tinha um nome, apelidos de infância, como a “mãe do Antônio”, “mãe da Bia”...
Algo semelhante ocorre com as professoras, e com os professores também, bem como com os pais... uma mulher que começa a lecionar perde o nome próprio, torna-se a “Pro”, “Profeee” e como muitos meninos adoram: “sora”!
Ando pelas ruas e invariavelmente ouço: “proooooo!”, ou “aquela é a minha professora”. Nunca ouvi um aluno dizer: aquela é a Fernanda. Não, desde a segunda-feira seguinte a minha formatura, quando bati na sala da coordenadora e pedi a oportunidade de lecionar, sou a professora para os mais de 500 alunos que tive ao longo deste ano, para as famílias destes alunos, para as namoradas e namorados que ouviram pacientemente explicações entusiasmadas do que meus alunos haviam aprendido em aula. Certa vez, uma aluna contou que estava numa festa e sentiu-se ótima explicando a todos que marketing é o estudo dos mercados, questionada pelo namorado sobre o que seria o estudo dos mercados, ela teve que confessar: isso a “pro” vai explicar na próxima aula, aí te conto!


No trabalho social que a escola, particular, em que dou aula desenvolve tenho contato com alunos muito jovens, ultra jovens! E é maravilhoso ver a capacidade de absorver conhecimento que eles possuem, como aproveitam cada ensinamento como se fosse o último bombom da caixa. Eu ensino brincando, como um “stand up” do saber, conduzo os conceitos e informações para ajudá-los a compreender, para estimular o pensamento crítico. Recorrente observar mudanças comportamentais positivas muito rapidamente, na maneira de se vestir, de se expressar, de conviver em grupo. Comovente os agradecimentos, elogios, declarações e, sobretudo, as confissões de planos para o futuro: sonhos com uma carreira vitoriosa, de abrir o próprio negócio e o meu favorito: de cursar faculdade. Como é bom preparar a terra, lançar sobre ela uma semente e depois verificar o primeiro broto surgindo, sabendo que se isso está ocorrendo é porque, para além do que se vê, existem raízes.


Numa noite de outono entrei na sala de aula, com o entusiasmo que me é peculiar, pronta para lecionar para determinada turma, mas na sala estavam ex-alunos meus, que já deveriam ter saído, mas se demoraram mais do que deviam. Assim que entrei recebi uma salva de palmas, com direitos a gritinhos e assovios. Fiquei tão emocionada que tive que inventar uma desculpa para sair às pressas, senão teria chorado. Justo eu que tantas vezes fui acusada de insensível pelos ex-namorados, pelas amigas indignadas porque achei um tédio o filme que elas acharam lindamente romântico, justo eu sherlockiana, racional, como pude me transformar em uma manteiga derretida? Me refugiei no banheiro e encarando o espelho questionei: Fernanda Araújo, o que é isso?? Respirei fundo e assim que saí tive a resposta: um grupo de alunas gritou: “beijooo proooo”. Tudo ficou claro, a gestora pública Fernanda Araújo jamais vacilaria em um momento de emoção, mas eu já havia me transformado na “Prooo”.


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