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sábado, 15 de junho de 2013

Terror na madrugada: Rodoviária de Santa Cruz do Sul

        Santa Cruz do Sul, 2:15 da madrugada, chego na cidade mais de duas horas antes da previsão informada pela empresa de ônibus... interpelo o motorista, ele demonstrando alguma solidariedade me deseja sorte... e é apenas com ela que poderei contar.
     Caminho só, na rodoviária aparentemente deserta.. ouço o som dos meus passos, enquanto esquadrinho os cantos escuros, os guichês vazios, a sala de espera fechada, as lojas vazias que remetiam a refúgios típicos de filmes apocalípticos, estaria alguém me observando?
     Quando se está numa situação de insegurança imediata, de vulnerabilidade total, pensamos que seria maravilhoso encontrar alguém: quando criança sentimos medo de sair no pátio a noite sozinho, mas acompanhado sentíamos que estavámos a salvo! Mas na minha situação, se a solidão era perigo, meu maior medo era a expectativa de uma companhia não amistosa...
    Tinha a sensação de estar dentro de um filme de suspense, e para minha desolação, eu tinha todas as características da mocinha em apuros!

          Vejo luz no canto oposto do terminal, um ponto de táxi, e com a postura mais determinada possível vou puxando minha mala, cujas rodinhas fazem um barulho estrondoso em meio a silente madrugada, enquanto olho para as ruas que rodeiam o lugar vazias, sem um carro, sem um pedestre, um grande posto de gasolina fechado, luzes apagadas, um hotelzinho sem qualquer sinal de movimento. Mesmo sem avistar algum taxista, me sento em um banco em frente a a sala com paredes de vidro, que permitem que eu me beneficie com a luz que vem dela.
         Como se não bastasse começa a cair pingos d'agua, primeiramente em minha mala, depois na minha roupa: não podia acreditar, estava chovendo e tinha goteiras? Nada disso. O teto alto, de lata, sua mais que corredor de maratona, bem, não era exagero dizer que chovia, e ali fiquei sentada, na "chuva", sozinha e apavorada. Foi então que o que eu mais temia aconteceu...

Rodoviária de Santa Cruz do Sul, madrugada de quarta para quinta-feira

         Ouvi barulhos e não vi ninguém, mas pressenti que estava sendo observada, apertei a bolsa contra o corpo e segurei a mala com a outra mão, neste momento percebi que não conseguiria  salvar as duas, caso as coisas saíssem do controle, e me questionava: concentro esforços em salvar a mala, onde está meu notebook com toda minha trajetória acadêmica, ou minha bolsa, onde estão todos os meus documentos e todo dinheiro que dispunha?
             Ao longe, como eu suspeitava, surge um vulto esgueirando-se entre as marquises, mexendo nas latas de lixo, chutando coisas no chão, capuz marrom, menor que eu, muito magro.. não consegui distinguir se era um guri ou uma mulher.. cabelos curtos, pele suja, olhar ameaçador.
           Naquele momento decidi que a bolsa importava mais.. olhei a criatura errante, que como eu se expunha, rompendo a quietude daquela fria madrugada, olhei em volta, respirei calmamente, fiz mentalmente uma pequena oração, evocando proteção. Aquela pessoa passou me olhando firmemente e conforme se afastava virava pra traz, me olhava.. seguia... novamente me encarava.. até que sumiu.

Depois desta primeira aparição fiz o que qualquer Sherlockiana faria: mandei mensagens para o máximo de pessoas, de modo discreto, para não mostrar o celular, dizendo o local exato onde estava, quem passava, e tudo que pudesse ajudar caso as coisas realmente se complicassem. 
E neste clima de medo e insegurança fiquei por duas longas horas, sozinha, exceto por eventuais caminhantes que demonstravam muito interesse nas latas de lixo e graças a Deus, mantiveram distância. Nenhum policial passou, nenhum vigilante apareceu. Paguei R$90,00 pela passagem de um ônibus "pinga-pinga", desconfortável, sem ar-condicionado, sem internet, pra chegar numa rodoviária de uma cidade importante como Santa Cruz e viver uma situação dessas!
Por volta de 4h15 meus tios chegaram pra me resgatar, para poucas horas depois eu apresentar meu trabalho na Unisc...
Tenho certeza que quem vê o meu sorriso nem suspeita tudo que passei pra chegar até aqui!

Fernanda





2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Vini!

      Como tu és generoso com esta tua amiga, mil gracias pelas palavras!
      Foi aterrorizante... Eu só pensava: esse congresso vai ter que valer muito a pena e valeu!! Mas também o que não faço pra melhorar meu currículo e garantir nossa ida pra Cadiz!
      Bj, bj e abração!!

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