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sexta-feira, 20 de março de 2015

Câmbio na Fronteira: como a desvalorização do real tem mudado o cotidiano fronteiriço

A Fronteira sempre viveu e sobreviveu manejando as reviravoltas na cotação das três moedas que circulam por aqui, na carteira de um fronteiriço você encontra Pesos , dólares e reais. Sempre há alguém reclamando e alguém feliz e sempre se contam histórias de que, em outra época, o câmbio favorecia os brasileiros ou argentinos ou os uruguaios. Por exemplo, quando o dólar disparou no início dos anos 2000 os hermanos argentinos, que estavam vivendo um bom momento econômico, a maioria ganhando em dólares, quando passavam rumos as praias de Santa Catarina por aqui ficavam abismados com o preço dos produtos. Conta-se que tudo era tão barato para eles que depois de consultar o valor de determinada mercadoria eles invariavelmente pediam: "dame dos!"





Em outros momentos com o peso desvalorizado em relação ao real ouve-se nossos vizinhos riverenses reclamando, "extrañando" o tempo em que valia a pena comprar tudo, especialmente comida no lado brasileiro. Ou quando os braileiros reclamavam do dólar a 2,60 ano passado e diziam: lembra quando 1 real era igual a 1 dólar? Queixas a parte, o cambio sempre parecia ciclicamente fazer justiça a todos. A política cambial nasceu para ser injusta e jamais deixará todos felizes, por exemplo, se o dólar está alto é ótimo para os produtores rurais que exportam sua produção e recebem a dólar e péssimo pra quem importa e vende produtos importados...




Mas a atual situação cambial parece não ter beneficiários na Fronteira da Paz: os argentinos que passaram por aqui relataram em sua maioria que o padrão de vida deles caiu muito, que pagam muitos importos que a maioria recebe a pesos argentinos, que a moeda deles está em constante desvalorização e que os preços no Brasil estão caros para eles.
Para os brasileiros a situação está complicadíssima: até novembro de 2014, $ 1000 (mil pesos uruguaios) eram equivalente a R$ 100 (cem reais), hoje $ 1000 estão equivalendo a R$ 125!! E não foi o peso que valorizou, foi o real que despencou mesmo.




Por que isso é ruim para os brasileiros? Pelo motivo óbvio: tudo está mais caro, há uma superinflação para quem quer ou precisa fazer compras no exterior. Tomar um chopp na Sarandy, comer uma parrilla e até tomar um helado na Martinez está caríssimo. Compras no free shop então.. só quando tem promoção e só o que é necessário e a lista de importados necessários diminui a cada dia.
Por que isso é ruim para os uruguaios? Porque o comércio e os serviços, base da economia riverense, dependem majoritariamente dos turistas brasileiros. Esse povo animado que viaja pelo menos 500km para comprar uísque e perfume. Se os turistas somem os restaurantes não tem quem servir, os free shops não tem para quem vender (ainda mais que no Uruguai só é possível vender para estrangeiros), os hotéis não tem quem hospedar. E como ficam os empregos dos garçons, camareiras, vendedores..? Fica ameaçado, gera insegurança e as pessoas gastam menos e menos dinheiro gira no comécio local...

Na metade deste ano a cota para compras de produtos nos free shops uruguaios vai cair pela metade para os brasileiros, vai passar de 300 dólares para 150 dólares. Enquanto isso grandes empreendimentos relacionados aos free shops continuam em execução em Rivera...
Por tudo isso, independente de minhas preferências ideológicas, só posso desejar ardentemente que o atual governo tenha pleno sucesso e estabilize a economia do Brasil. Qualquer atitude contrária, traz algum benefício na atual situação?

Abraços Fronteiriços,

Fernanda

Um comentário:

  1. Muito bem Fernanda. Contudo, sempre aqui nesta fronteira o comércio riverense foi relativamente bem frequentado devido aos bons artigos. O que agora soma-se aí a instabilidade política brasileira que contribui, e muito para que as pessoas não gastem.
    Abração.

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