Por: Adriano Morais
Tinha uma bergamoteira na casa da minha tia, domingos de inverno ao sol, ali se formava uma reunião familiar, a lagarteada era a rede social da época, ainda criança não entendia muito dos assuntos, apenas esperava pela bergamota descascada que meu pai me oferecia e sempre aquela frase: _Não vai pingar na roupa que tua mãe vai ficar braba!
Política, futebol, piadas, contos e lendas, ali tudo era pauta, desde longas risadas até muitas teses sobre a realidade do país. Com 8 ou 9 anos, eu já gostava de ler as páginas de economia e política do jornal, não sabia formar muito bem uma linha de raciocínio, mas sabia todas taxas econômicas e nomes dos políticos. Aquele mundo me fascinava, pessoas de gravata, parecendo importantes e inalcançáveis.
Talvez dali herdei meu gosto por política e números, e por debater esses assuntos.
Lembro que uma vez um primo estava de castigo, e não poderia nem ficar ali e nem comer bergamotas, estava proibido. Como bom amigo e mau caráter, levei escondida uma bergamota pra ele, descascou e comeu, nunca vi alguém comer com tanto gosto uma bergamota, e com tanto medo. Infringimos a lei da casa, éramos criminosos, mas pensávamos ter feito o crime perfeito. Minha tia nos encontrou e logo disse: _Tu comeu bergamota!
Não tínhamos nos dado conta de um pequeno detalhe, o cheiro da bergamota fica, ali se ia nosso crime perfeito.
Constrangido, amedrontado e agora também de castigo, éramos motivo de risada dos demais.
Mas eram dias felizes, eram tempos bons, as boas lembranças, os bons momentos, são como bergamotas, sempre deixam seu cheiro, sempre deixam sua marca.
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