Sempre gostei de fazer "uma limpa" nos meus papéis, coisas da escola, revistas.. Organizava em pastas, com clipes, mas minha forma favorita sempre foi organizar em caixas, que eu gostava de decorar com papéis bonitos, floridos. Abrir uma dessas caixas era sempre como desenterrar um tesouro, como se dentro dessas caixas eu pudesse achar a resposta das perguntas que eu não sei fazer.
Alguém disse que quem revisita o passado com frequência envenena o presente.
Mas quem jamais revisita o passado se perde. Como uma árvore que desprezando suas raízes quisesse explorar o mundo. Tombaria sem dar um passo e pereceria sem chance de retorno, porque quebrou a sua ligação com a terra.
Diferente das plantas, nossas raízes são sentimentais, abstratas, mas rompe-las pode ser tão perigoso quanto. O que não podemos é utilizar isso como desculpa para não avançar.
Eu amo cartas! Sei que e-mails são muito mais práticos, mas nada substitui a alegria de receber um envelope fofinho, endereçado a mão, com selos coloridos e a expectativa do conteúdo da carta. Todas as pessoas realmente especiais na minha vida já receberam uma carta minha! É um dos maiores sinais de afeto que alguém como eu, consegue ofertar! Por muito tempo usei até um pseudônimo e troquei correspondências com pessoas de todo Brasil, formando uma rede social muito antes de você ter um perfil no Orkut!
Releio os poemas favoritos, quase sempre de madrugada, tento encontrar a chave que vai permitir o encontro da minha forma com a minha essência. Porque a vida vai mudando, tantas vezes alheia a minha vontade, e meus sonhos, meus medos, minha loucura e minhas paixões seguem iguais, embora a vida seja tão inconstante e diferente a todo instante. E o Quintana me dá conselhos e o Gibran me faz refletir, e são sempre as mesmas palavras como é indelével o meu amor por elas.
E entre sonhos que se realizam e vontades que permanecem, por mais que toda vez eu jogue mais alguma coisa, fora tudo aquilo fica bem legível em mim, e posso revisitar qualquer dia e supor finais diferentes para diferentes atitudes. A verdade, é que embora eu tenha o dom de partir laços e apagar rastros com inabálavel obstinação, eu limpo o que eu posso de tudo que recebi das pessoas, guardo tudo que tiver alguma pureza e me não perco sabendo de onde vim, e vejo todas as possibilidades para decidir onde vou. Acredito que este deva ser o papel da familia, a representacao de algo que nunca nos abandona, ainda que chegue um momento em que teremos a necessidade de abandona-la.
Nestes tempos de solidão conectada, de 500 em um "bate-papo" e nenhum para se abrir, manter a essência dos nossos sonhos é tão importante quanto arriscar cada vez mais para encontrar uma forma de realiza-los!
Hoje não preciso mais abrir as caixas, reorganizar os envelopes, só preciso saber que o que eu quero existe e portato, pode ser alcançado.
Abraço com desejo de coragem a todos os meus leitores,
Fernanda
Nenhum comentário:
Postar um comentário